Entrevista

Walter fala da batalha contra a balança e da adaptação ao Pelotas

Atacante aborda a chegada ao Lobo, a luta para perder peso e os comentários no mundo inteiro sobre sua imagem. Se o clube subir, ele pretende continuar em 2024

Foto: Carlos Queiroz - DP - Jogador de 33 anos afirma já ter perdido ao menos dois quilos desde a chegada ao Áureo-Cerúleo

Por Gustavo Pereira e Fernando Rascado
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Walter está acostumado a ser o centro das atenções, e é isso que tem acontecido desde que chegou ao Pelotas, há quase duas semanas. Prestes a completar 34 anos, o novo camisa 18 do Lobo viu sua imagem viajar o mundo, via internet, e render comentários dos mais diversos tipos. A luta do atacante pernambucano para perder peso é árdua e, apesar de se dizer um pouco incomodado, ele afirma lidar bem com a situação – que parece pouca coisa para quem superou as dificuldades da infância e construiu uma carreira de sucesso e títulos importantes em grandes palcos.

O jogador recebeu a reportagem do Diário Popular na Boca do Lobo, na última quinta-feira (1º), quando ainda não sabia se estaria relacionado para a partida de domingo, diante do Guarani-VA. Ele, de fato, não atuou para dar sequência ao recondicionamento. Falou abertamente sobre a batalha contra a balança e também abordou a forma de encarar as opiniões alheias – muitas consideradas maldosas pelo próprio.

Adaptação, negociação com o clube, desafio de ajudar o Pelotas a subir, rotina alimentar, futuro da carreira e recepção da torcida foram outras pautas da conversa. Confira.

Como está a adaptação à cidade e ao clube?

Acostumando aí de novo, esse frio aí, meu Deus do céu. Fiquei dez anos longe. Eu moro aqui do lado. Tô de boa. Mas treino no frio que me pega um pouco. Na volta a gente sente um pouco.

E a negociação com o clube, como foi? Não foi de uma hora pra outra...

É engraçado que o presidente me mandou uma mensagem, depois que eu fui ver, eu não tinha visto. Foi em janeiro, só que eu não vi. Ficou lá. Aí o Vinícius [Conrad, vice-presidente] me achou no Instagram, falou ‘pô, preciso falar contigo, me manda teu WhatsApp, tô fazendo um projeto bacana aqui no Pelotas’. Mandei meu WhatsApp pra ele e ele mandou os projetos, a torcida como é. Eu falei que não precisa mandar, já conheço, sei da grandeza do Pelotas. Queria muito. Só que as coisas esfriaram. Quinze ou 20 dias atrás o Vinícius me liga de novo. Falei ‘agora está mais difícil, tô parado, a gente treina em casa mas não é a mesma coisa’. E ele não, ‘eu confio em você, quero trazer você’. E valor? Falei ‘não, não tem problema não, me põe lá pra eu treinar, pegar meu ritmo de volta’. Quando o presidente me manda uma mensagem, foi aí que eu fui ver que ele já tinha mandado uma mensagem pra mim. Falei ‘desculpa, não visto tua a mensagem’. A gente conversou, foi muito rápido e deu certo.

Tinha proposta de outros clubes?

Apareceram algumas coisas, mas no time onde eu tava [Afogados-PE], trabalhei quatro meses e recebi um. Fiquei com três meses pra trás. Fiquei com receio de ir pra outro time e acontecer a mesma coisa. Falei ‘vou ficar aqui em casa, esperar’. Mas meu erro foi esse, esperei muito. Eu tenho que estar treinando, jogando. Fiquei dois meses em casa e, querendo ou não, você dá uma engordada mais ainda. Eu já tenho esse problema de peso, engordei mais ainda. Mas é muita dor de cabeça você estar trabalhando e não estar recebendo. A cobrança vem em você, o povo não quer saber. Pensei em sossegar, ficar parado, e na metade do ano tinha um negócio pra mim lá em Goiânia, dava pra treinar dois meses, pegar ritmo e voltar pra Goiânia de novo. Mas aí veio o Vinícius de novo e me trouxe pra cá.

Como é que tu encara as piadas? Tu tem uma carreira de sucesso, e como tu vê o que as pessoas falam sobre teu peso?

Eu sabia que a imagem [do jogo contra o Guarani-VA] ia rolar. Tinha consciência. Conversei com o professor [Wiliam Campos, treinador], falei pra ele. Você está há quase 40 dias parado, você já tem um problema de peso. Treinei três dias com o grupo. Lógico que não tava 100%, nem 70%. Mas falei pra me levar pro jogo, queria sentir o calor da torcida, o torcedor fez uma festa muito grande. Eu sei que as coisas não estão acontecendo, e falei que poderia ajudar com a energia fora do campo. O Wiliam foi do caramba, conversando comigo sempre muito aberto. Me levou pro jogo e graças a Deus conseguimos fazer os gols. O Pelotas fazia sete jogos que não fazia dois gols. Tava difícil e naquele jogo saíram quatro. No fim deu pra dar uma carreirinha, a torcida estava feliz, e as coisas aconteceram. Lógico que se pega as imagens e tal, mas já era esperado. Tanto o bom quanto o ruim, as pessoas falam. Pelo meu nome, pela história que eu tenho. Tenho um problema de peso, sim, mas tem pessoas maldosas, muitas pessoas maldosas, e tem pessoas que falam com carinho. A gente sabe quando é com carinho e sabe quando é na maldade. Dói sim, dói pra caramba, mas eu podia correr esse risco. Peço todos os dias pra treinar em dois turnos, pra estar melhor. Preciso de um projeto, um mês, 25 dias treinando e tal, só que não tem esse tempo todo. Se a gente subir, aí sim. Aí começa a trabalhar em novembro, e aí tem um tempo pra chegar em janeiro, que começa o Gauchão da Série A, muito melhor, entendeu? Mas tenho a consciência de que posso ajudar, e se eu ver que não aguento, que não estou podendo ajudar, chego no presidente e falo ó, ‘sou muito grato a vocês, mas não tô dando conta’. Aí peço pra sair e vou pra casa.

Tem empresas que tiram proveito da tua imagem. Isso não te incomoda?

Não, porque isso sempre teve na minha vida. Eu tiro de letra. Me incomoda sim, um pouco. Mas não tem por que brigar, bater de frente. Isso não interessa. Como falei, tem pessoas maldosas, que passam do ponto. Eu estou com 33 anos, vou fazer 34, e na minha vida sempre tive esse problema. Não é agora que vai mudar.

O que tu achou da recepção da torcida?

Show de bola. Só tem que dar os parabéns pra todos os funcionários do Pelotas. Assessoria, marketing, que fizeram um trabalho muito forte. E à torcida também. Tirar um pouco do tempo, à noite, e fez uma festa muito grande. Sou muito grato a Deus, mesmo, por esse carinho. Por isso tento, cada vez mais, acordar bem, porque quando você está bem e quer conseguir algo a mais, você precisa estar bem e feliz. E é isso que eu tô. Se eu não puder ajudar, porque querendo ou não, tem a carga de peso que pode atrapalhar, vou ser o primeiro a dizer que não consegui e que, pra não atrapalhar, tô indo embora. Sou muito real, muito verdadeiro.

E pro futuro, o que tu projeta pra carreira?

Eu fiquei um bom tempo sem gosto de jogar, sabe? Fui pro Afogados e me deu aquele gosto de novo pra jogar. E quando cheguei aqui me deu mais ainda. Quero muito estar jogando pra dar alegria pra essa torcida, que me aceitou de braços abertos. O grupo também, o treinador, todo mundo me deu uma confiança muito grande. E isso cada vez me dá mais força pra voltar o mais rápido possível, voltar bem. Tem as pessoas que gostam de mim também. É muito a nossa cabeça, nossa mente. Eu posso ter aqui a volta por cima ou dizer: ‘perdi essa batalha’. Eu quero trabalhar, sei que é difícil você perder dez, 12, 15 quilos em um mês, você treinando e viajando pra jogar, no meio de um campeonato. Mas é tentar perder o máximo pra poder ajudar dentro do campo.

Até onde tu acha que consegue chegar nesse momento? Ser titular, jogar um tempo, o jogo inteiro?

É no dia a dia que eu vou ver. Há muito tempo eu não treinava no frio. Querendo ou não, a carga de peso dói o joelho, e com o frio dói mais ainda. Tem mais dois meses ainda, três meses, não sei como vai ser. No frio é muito mais difícil de perder peso do que no calor. Vou trabalhar pra em duas, três rodadas, virar titular. Respeitando meus companheiros. Se eu ver que não tá dando, chego pro presidente e falo que não dá, que não consegui, e peço perdão. É bem complicado, sabe, bem difícil. Vou ser muito real com vocês e com o torcedor. Não é fácil estar acima do peso, porque você quer fazer aquilo, mas o corpo não vai. Não responde. Eu tenho minha consciência de boaça nisso, por isso que a cada dia, cada semana, a gente pesa na segunda e no sábado. Desde que cheguei perdi dois quilos, dois quilos e pouquinho. E sem treinar muito forte, porque vim com uma chuteira nova. Minha chuteira estragou e meu pé é muito complicado pra ter chuteira. Meu pé é muito largo e comprei uma chuteira em cima da hora, deu dois calos no pé. Machucou. Eu tô aí porque sou um guerreiro, preciso trabalhar, mas parece que tem uma faca raspando o seu pé. Isso tá me atrapalhando muito. Mas na luta, todo dia curativo, correndo atrás de outra chuteira, tentando ver preço. A chuteira hoje tá um preço absurdo, mas é meu material de trabalho. Não está tendo aquela chuteira que gosto de jogar. Durante a semana até o professor falou que não esperava que eu perdesse esse peso todos nesses dias.

Tu combinou com o clube uma dieta especial? Planejou perder X quilos?

A gente não tem na cabeça perder tantos quilos. Tem a comida aqui. Café da manhã, janta, almoço. Eu evito comer o lanche da noite. Saio daqui [Boca do Lobo], janto umas 18h30min, e não como mais nada. Só água. Lógico que no outro dia você se acorda com uma fome danada. Mas é uma dieta que eu, na minha cabeça, já tô aí nessa briga faz dez, 12 anos, e já tem tudo na minha cabeça o que posso comer e o que não posso. Chamei uma profissional daqui de Pelotas pra fazer uma marmita pra mim, que fica mais fácil, por peso. A gente está conversando, e vai marcar uma reunião pessoalmente porque nessa correria, de manhã e à tarde, a gente chega cansado.

Fica pra 2024 se o Pelotas subir?

Sim. É uma coisa que eu quero. Foi isso que ficou combinado. É um time interessante. Saí daqui em 2010 e não voltei mais pro Sul, e você foca em outros campeonatos, onde você tá. Mas se eu soubesse a grandeza do Pelotas, como era, poderia ter vindo antes. Tem uma torcida que cobra, mas tem torcida.

Chegou a jogar aqui contra o Pelotas?

Joguei muito mais contra o Brasil. Pelo Goiás, Athletico Paranaense. Contra o Pelotas só joguei a final em 2010 lá no Beira-Rio [Taça Fábio Koff do Gauchão], que a gente [Inter] venceu, 3 a 2.

Tu jogou com muitos craques na vida. Algum deles te mandou mensagem quando tu veio pra cá?

Tem o Hulk, que é um amigo, irmão, tenho um carinho muito grande. O Weverton, goleiro do Palmeiras. Tem o Taison, vi ele aqui na frente agora. É um irmão. Ele é daqui, ele e o Titi [zagueiro do Fortaleza]. Os dois me deram parabéns e tal, mas não é o time deles. É vermelho... O futebol, amigo mesmo, ele te dá poucos. Ele dá mais conhecidos. Amigo mesmo é quando você tá mal, quando você precisa, liga todos os dias.

E o Bra-Pel, tem expectativa pra, talvez, poder jogar um clássico?

É um jogo que é bom. A torcida também acho que está com saudade. O Brasil tem a grandeza dele, o Pelotas tem a grandeza dele. Imagina, deve ser bom demais. Duas torcidas apaixonadas.

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